A redação do Enem vale até 1.000 pontos e pode representar a diferença entre conquistar ou perder uma vaga no curso desejado. Diferente de outras avaliações de produção textual, essa prova segue matriz de correção específica, dividida em cinco competências que recebem pontuação independente.
Cada competência pode atingir até 200 pontos, e o desempenho final resulta da soma dessas notas parciais. Compreender exatamente o que cada competência avalia permite ao candidato direcionar a preparação e construir textos mais alinhados às expectativas dos corretores. O formato exigido é dissertativo-argumentativo, com limite de 30 linhas e mínimo de 7. Textos abaixo ou acima desses limites são desclassificados. A proposta sempre apresenta tema ligado a problemas sociais, culturais ou ambientais relevantes para a sociedade brasileira, acompanhado de coletânea com textos de apoio que fornecem informações e perspectivas sobre o assunto.
As cinco competências que definem a nota
A competência 1 avalia domínio da norma-padrão da língua portuguesa. Corretores verificam ortografia, concordância verbal e nominal, regência, pontuação e uso adequado de acentuação. Desvios gramaticais reduzem a pontuação proporcionalmente à gravidade e frequência. Erros sistemáticos, que se repetem ao longo do texto, prejudicam mais a avaliação do que desvios pontuais. A competência 2 mede compreensão do tema e aplicação de conceitos de diferentes áreas do conhecimento para desenvolver a argumentação.
O candidato precisa demonstrar que entendeu a proposta, mobilizar repertório cultural diversificado e estabelecer relações claras entre esse repertório e o tema discutido. Citações genéricas, informações superficiais ou argumentos desconectados do tema comprometem essa avaliação. A competência 3 analisa capacidade de organizar informações e defender ponto de vista. O texto precisa ter tese definida, argumentos consistentes que sustentem essa tese e progressão lógica entre as ideias. Parágrafos soltos, sem conexão entre si, ou mudanças bruscas de perspectiva prejudicam a coerência argumentativa. A competência 4 examina domínio dos mecanismos linguísticos necessários para construir argumentação coesa.
Uso adequado de conectivos, retomadas por sinônimos, pronomes e expressões referenciais, além de sequenciação lógica entre frases e parágrafos são elementos avaliados. Textos que apresentam repetições excessivas, ausência de conectores ou uso inadequado desses recursos perdem pontos nessa competência. A competência 5 verifica elaboração de proposta de intervenção para o problema abordado. Essa proposta precisa respeitar direitos humanos e conter cinco elementos: ação, agente, modo, efeito e detalhamento de pelo menos um desses elementos. Propostas vagas, genéricas ou que violem direitos fundamentais resultam em perda significativa de pontuação.
Estrutura clássica que organiza a argumentação
A introdução contextualiza o tema e apresenta a tese que será defendida. Candidatos experientes conseguem construir parágrafos iniciais que já demonstram compreensão ampla do problema, estabelecem recorte específico e indicam a direção argumentativa do texto. Introduções muito curtas ou que apenas repetem informações da coletânea desperdiçam oportunidade de conquistar pontos logo no início. O desenvolvimento ocupa geralmente dois parágrafos, cada um explorando argumento diferente. Argumentos eficazes combinam dados estatísticos, referências históricas, conceitos filosóficos ou sociológicos e exemplos concretos que ilustram o problema. A profundidade da análise importa mais do que a quantidade de argumentos.
Dois argumentos bem desenvolvidos superam três ou quatro apresentados superficialmente. "Observamos que estudantes que treinam regularmente conseguem articular argumentos com mais naturalidade e segurança", destacam educadores do Colégio Anglo São Roque. "A prática constante desenvolve repertório e familiaridade com a estrutura esperada."
A conclusão retoma a tese e apresenta a proposta de intervenção. Esse parágrafo não deve introduzir informações novas nem argumentos que não foram explorados anteriormente. O foco está em amarrar as ideias desenvolvidas e apresentar solução viável e detalhada para o problema discutido.
Proposta de intervenção exige detalhamento
O elemento mais negligenciado pelos candidatos é justamente aquele que pode garantir os 200 pontos finais. Propostas genéricas como "o governo deve investir em educação" ou "a sociedade precisa conscientizar-se" não atendem aos critérios da competência 5. É necessário especificar qual órgão governamental atuará, por meio de quais ações concretas, com que recursos e visando quais resultados mensuráveis. Uma proposta completa indica agente responsável (Ministério da Educação, ONGs, empresas privadas), descreve ação específica (campanhas publicitárias, alterações legislativas, programas de capacitação), explica meio ou modo de execução (por meio de parcerias público-privadas, mediante fiscalização rigorosa), aponta finalidade ou efeito esperado (com objetivo de reduzir índices de evasão escolar) e detalha algum desses elementos (especificando público-alvo, prazo de implementação, fonte de financiamento ou mecanismo de avaliação de resultados). Candidatos que alcançam nota 1000 costumam dedicar o mesmo cuidado à proposta de intervenção que dedicam à argumentação. Eles compreendem que essa seção vale tanto quanto qualquer outra competência e merece igual atenção no planejamento e na execução do texto. Temas refletem problemas sociais brasileiros Analisar temas de edições anteriores revela padrões importantes.
Questões ligadas a desigualdades sociais, direitos de minorias, acesso a serviços públicos, preservação cultural e dilemas éticos da sociedade contemporânea aparecem com frequência. Em 2024, o tema foi "Desafios para a valorização da herança africana no Brasil". Em 2023, "Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil". Em 2022, "Desafios para a valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil". Temas geralmente começam com termos como "desafios", "caminhos" ou "invisibilidade", sinalizando que o candidato precisa identificar problema, analisar causas e propor soluções. A coletânea oferece pistas valiosas sobre ângulos de abordagem possíveis, mas não deve ser copiada. Paráfrases dos textos de apoio demonstram pobreza de repertório e comprometem a avaliação na competência 2. Manter-se informado sobre atualidades brasileiras prepara melhor do que tentar adivinhar temas específicos.
Ler jornais de qualidade, acompanhar documentários sobre questões sociais, conhecer dados demográficos do país e estudar conceitos de sociologia, filosofia e direitos humanos constrói base sólida de conhecimento que pode ser mobilizada independentemente do tema sorteado. Estratégias práticas para o dia da prova Ler com atenção a proposta e os textos de apoio é primeiro passo fundamental. Sublinhar palavras-chave, identificar perspectivas diferentes nos textos auxiliares e anotar ideias iniciais ajudam a organizar o pensamento antes de começar a escrever.
Muitos candidatos cometem erro de começar a redação sem planejar, resultando em textos confusos e desorganizados. Elaborar esquema simples no rascunho, listando tese, dois argumentos principais e ideia geral da proposta de intervenção, economiza tempo e garante coerência. Esse planejamento pode ocupar apenas cinco minutos, mas evita reescritas e garante que todos os elementos obrigatórios estarão presentes. Gerenciar o tempo disponível requer disciplina. Reservar pelo menos uma hora para a redação permite escrever com calma, revisar e passar a limpo sem atropelos. Candidatos que deixam a redação para o final costumam sentir mais pressão e cometer mais erros tanto de conteúdo quanto de forma.
A revisão antes de passar para a folha definitiva identifica problemas de concordância, pontuação inadequada, repetições de palavras e falhas na progressão argumentativa. Ler o texto em voz baixa, mesmo que mentalmente, ajuda a perceber trechos confusos ou mal construídos que passariam despercebidos numa leitura visual rápida. Erros que levam à nota zero Alguns deslizes anulam completamente a redação. Fugir totalmente do tema, escrever menos de 7 linhas, desrespeitar estrutura dissertativo-argumentativa, copiar textos da coletânea, incluir desenhos ou impropérios e ferir direitos humanos são motivos de desclassificação. Conhecer essas regras evita erros fatais que inviabilizam aprovação independentemente da qualidade do restante da prova. A preparação consistente, com escrita regular de redações sobre diferentes temas sociais, correção orientada por critérios das cinco competências e análise de textos nota 1000 de edições anteriores, desenvolve habilidades necessárias para bom desempenho.
A redação do Enem não avalia talento nato, mas domínio de técnicas que podem ser aprendidas e aperfeiçoadas com prática deliberada e orientação adequada.
Para saber mais sobre a redação do Enem, visite https://vestibular.brasilescola.uol.com.br/enem/como-fazer-redacao-enem.htm e http://portal.mec.gov.br/component/tags/tag/40141-redacao-nota-mil